Essais

Magna Carta / Carta Magna

Une approche artistique, écologique, philosophique et politique du monde géopoétique

Le Livre

2025

Essai / Ensaio
23 x 24 cm
99 pages
Livre broché
ISBN 978-8521-708278
Pontes Editores

PREFÁCIO

Magna Carta é um livro sobre o Brasil escrito por um poeta e pensador franco-escocês Kenneth White, em diálogo com os“ papeis geopoéticos” do artista plástico francês Dominique Rousseau, criados, entre outras ações, pelas suas itinerâncias pelo nosso país. Em suas imagens geopoéticas, o autor revela a sua percepção com relação a outros artistas e escritores que conheceu no Brasil e na Amazônia, como o poeta e escritor Cendrars (1920), o crítico de arte francês Pierre Restany (1978), as ideias do “Manifesto Antropológico”do poeta e escritor brasileiro Oswald de Andrade (1928) e da filósofa, professora e psicoterapeuta brasileira Suely Rolnik (1978). A partir dessas diferentes experiências brasileiras, Kenneth White constroi, neste texto extravagante, uma abordagem artística, ecológica, filosófica e política do mundo geopoético.A publicação desta obra surge em um momento onde o pensamento geopoético desenvolvido depois dos anos 1980 por Kenneth White suscita um interesse crescente.

Depois de alguns anos, pesquisadores, artistas e poetas são desejosos de conhecer um trabalho de um dos maiores pensadores da nossa época que nos convida a questionar uma nova maneira de viver, assim como os fundamentos da existência humana sobre a Terra. Para White, o ser humano é eminentemente um “errante”, sem objetivo e nem destino preciso, que se coloca a questão fundamental : o que nós sabemos sobre a vida sobre a terra? (WHITE, 1989) Os grupos de estudo e pesquisa brasileiros compartilham estas preocupações. É neste contexto que este livro chega hoje no Brasil. Esta tradução é fruto do trabalho desenvolvido na Cátedra Fidelino de Figueiredo da UNEB- Universidade Estadual da Bahia, pelo grupo de estudos e pesquisa Geopoética: cultura, espaço, literatura e arte. Este grupo brasileiro, filiado ao Instituto Internacional de Geopoética , em diálogo com outros espaços literários e culturais no mundo, procura no pensamento geopoético de Kenneth White uma base teórica para seus estudos.

Depois de ter criado com Dominique Rousseau numerosos livros de artistas manuscritos, Kenneth White escreveu o livro Magna Carta em 2016. Inédito na França, este texto em edição bilíngue é publicado no Brasil na véspera da comemoração do ano do Brasil na França e da França no Brasil. Esta oportunidade de traduzir o livro Carta Magna me foi sugerida por Kenneth White na ocasião do meu encontro com ele em Trébeurden em julho de 2023. O trabalho começou no mês seguinte no contexto do ateliê geopoético realizado pelo Grupo de estudos e pesquisa Geopoético da UNEB no Ecoparque de Massarandupió no Estado da Bahia. Nós soubemos com muita emoção com Dominique Rousseau, presente neste ateliê, da passagem do Kenneth White. Esta obra originou um movimento geopoético ativo em diferentes lugares do mundo, onde o objetivo é repensar a vida na Terra e de restabelecer uma relação sensível, inteligente e profunda entre os seres humanos e a natureza com o intuito de criar um mundo.
Boa Leitura!

Lirandina Gomes
(Grupo de estudos e pesquisa Geopoética: cultura, espaço, literatura e arte)

PRÉLUDE

Magna Carta est un livre sur le Brésil écrit par le poète et penseur franco-écossais Kenneth White, en dialogue avec les « papiers géopoétiques » de l’artiste plasticien français Dominique Rousseau créés, entre autres, lors de ses itinérances à travers notre pays. Aux images géopoétiques, l’auteur ajoute la perception d’autres artistes et écrivains qui ont connu le Brésil et l’Amazonie, comme le poète et écrivain franco-suisse Blaise Cendrars (1920), le critique d’art français Pierre Restany (1978), les idées du « Manifeste anthropophagique » du poète et écrivain brésilien Oswald de Andrade (1928) et de la philosophe, enseignante et psychothérapeute brésilienne Suely Rolnik (1978). À partir de ces différentes expériences du Brésil, Kenneth White construit, dans ce texte extravagant, une approche artistique, écologique, philosophique et politique du monde géopoétique. La publication de cet ouvrage intervient à un moment où la pensée géopoétique développée depuis les années 1980 par Kenneth White suscite un intérêt croissant.

Depuis quelques années, chercheurs, artistes et poètes sont désireux de connaître le travail d’un penseur majeur de notre époque qui nous invite à questionner notre manière de vivre, ainsi que les fondements de l’existence humaine sur Terre. Pour White, l’être humain est éminemment un « vagabond », sans but ni destination précise, qui se pose la question fondamentale : que savons-nous de la vie sur terre ? (WHITE, 1989) Des préoccupations dans lesquelles des groupes d’étude et de recherche brésiliens se retrouvent. C’est dans ce contexte que ce livre arrive aujourd’hui au Brésil. Sa traduction est le fruit d’un travail au sein de la Cátedra Fidelino de Figueiredo de l’UNEB – Université de l’État de Bahia, par le Groupe d’étude et recherche Géopoétique: culture, espace, littérature et art. Ce groupe brésilien, affilié à l’Institut International de Géopoétique, en dialogue avec d’autres espaces littéraires et culturels dans le monde, cherche dans la pensée géopoétique de Kenneth White un support théorique pour ses études.

Après avoir créé avec Dominique Rousseau de nombreux livres d’artistes manuscrits, Kenneth White a écrit le livre Magna Carta en 2016. Inédit en France, ce texte en édition bilingue paraît au Brésil à la veille de la commémoration de l’année du Brésil en France et de la France au Brésil. Cette opportunité de traduire le livre Magna Carta m’a été faite par Kenneth White à l’occasion de ma rencontre avec lui à Trébeurden en juillet 2023. Le travail a commencé le mois suivant dans le contexte de l’atelier géopoétique réalisé par le Groupe d’étude et de recherche Géopoétique de l’UNEB dans l’Ecoparc de Massarandupió dans l’État de Bahia. Nous avons partagé avec Dominique Rousseau, présent à cet atelier, le départ de Kenneth White avec beaucoup d’émotion. Son œuvre a donné naissance à un mouvement géopoétique actif dans divers lieux du monde, dont le but est de repenser la vie sur Terre et de rétablir une relation sensible, intelligente et fine entre les humains et la nature afin de créer un monde.
Bonne lecture !

Lirandina Gomes
(Groupe d’étude et recherche Géopoétique: culture, espace, littérature et art)

Extraits

INTRODUÇÃO

Que nosso mundo foi excessivamente normatizado é uma hipótese à qual podemos atribuir algum crédito. Livros de ordem sociológica e psicológica que descrevem e comentam esta situação são publicadosem centenas, sem que jamais fique clara a sensação profunda, real, de um mundovivente e de um espaço inspirador.

Foi um tempo onde as «vanguardas » mantiveram aberto o espaço de pesquisa e de criação fora do mundo pesadamente normatizado. As vanguardas estão sempre lá, mas como os temas colocados em colóquios e merchandises sobre o mercado da arte. Quanto à sociedade normatizada, ela se liberalizou. Se antigamente, restringida a normas, ela pode rejeitar tal e tal arte como «imoral», «decadente», «disposta», etc., hoje ela acolhe tudo, engole tudo. Nós estamos no reinado de tudo e qualquer coisa.

Dentro de outra ordem de ideias, antes que este barco não fracasse, um Maïakowski, frente a um revolucionarismo estático rígido, pode ainda reclamar uma «revolução» de espírito. Hoje em dia, só os mais ingênuos podem ainda empregar tais slogans crendo que este vai «fazer diferença », « transformar a sociedade », « mudar o mundo ». Nós não fizemos que andar em círculos, e todo mundo se perde em um burburinho onde apenas espíritos confusos podem se deleitar.

Não resta mais que tentar começar tudo de novo.

É exatamente aquilo que eu proponho sobre o conceito de geopoética.

Foi dentro desta perspectiva, que surgiu meu encontro com Dominique Rousseau, que completa agora uma quinzena de anos[N. do T. Os autores trabalham juntos há mais tempo.].

Desde o primeiro contato com seus trabalhos, eu senti que eu estava encontrando « um artista eminentemente geopoético ». Neste livro recente sobre a geopoética (Panorama géopoétique)[N. do T. : WHITE, Kenneth; POULET, Régis. Panorama géopoétique : théorie d’une textonique de la Terre : entretiens avec Régis Poulet. Editions de la Revue des ressources, 2014], eu falo de « textonica da terra ». Ou, o trabalho de Dominique Rousseau é profundamente textonico [N. do T. Trata-se de um neologismo criado pela tradutora para se aproximar ao máximo possível da expressão “textonique” criada pelo autor.] . Ele mergulha na matéria do mundo. Eu penso àquilo que ele chama, não modestamente, mas basicamente, fundamentalmente, seus « papeis ». Estes papéis, que ele fabrica ele mesmo, são embrenhados de matérias diversas recolhidas em diferentes regiões do mundo: florestas úmidas, savanas, praias. Em seguida, graças a uma técnica complexa, a de gestos, algumas vezes, fluídos e controlados, precisos e aleatórios, o papel de base se torna paisagem.

É todo o itinerário da humanidade que nos interessa. Aquele que foi o progresso social e cultural do ser humano, as qualidades da floresta primária, da savana e do deserto estão ainda inscritas no nosso cérebro.

E da primeira paisagem, nós podemos ir, para além de todos os bloqueios ideológicos, para uma paisagem do espírito.

Com Dominique nós tivemos empreendido uma grande colaboração que, atualmente, comporta uma vintena de livros, como também de numerosas pranchas separadas.

Neste estudo, eu não realizo comentáriodiretos sobre a obra de Dominique Rousseau, eu não faço uma « crítica de arte ». O eu tento fazer, é mergulhar nos recursos algumas vezes físicos e outros mentais de abrir um espaço no qual as obras surgem dentro sua própria obviedade, eu tento trazer o contexto no qual as obras aparecem, não somente com toda a sensação que elas veiculam, mas com todo seu significado.

Muito consciente da grandeza da empreitada, eu quero, como título desta obra, uma palavra extravagante, grotesca mesmo, que se localizará na paisagem habitual como uma bloco errático vindo de outro lugar. Em seguida, de uma longa meditação amazônica, o termo que surgiu dentro do meu espírito grotesco à vontade : Amazonarama.

Se eu decidir mais tarde escolher um título mais conveniente, ele não é talvez ninútil que eu explique um pouco este termo, porque ele constitui nele mesmo, à sua maneira, uma introdução deste livro, pela dimensão da sua proposta.

De início, o espaço, não, certos, únicos, mais privilegiados, de Dominique Rousseau, é a Amazônia, um dos centros nevrálgicos da Terra.

Da minha parte, eu sempre me interessei pela noção de panorama.

Se nós incluímos a isso o nome que os Tupinambás davam ao território que iria se tornar o Brasil, Pindorama, o título se densifica mais.

No entanto, para retornar à parte da «Amazônia », a referência geográfica não está sozinha. Foneticamente, na «Amazônia», nós encontramos amaze (do inglês antigo amazian) que origina amazement [3 N. do T. a expressão utilizada pelo autor foi amazement.] espantosamente, a motivação primeira segundo Aristóteles (thaumazein) do pensamento e da arte, gerando uma configuração de ser, do universo e da sua relação.

A tudo isso eu adiciono um elemento suplementar. No seu lindo livro, A face da terra, Eduard Suess evoca o grande poema asiático, o Ramayana, dando ênfase a uma passagem particular que resume todo um questionamento, toda uma problemática: « Contemplando o oceano, onde os limites se unem sobre o horizonte com o céu, Rama se demanda se será possível abrir um caminho através desta imensidão, de penetrar dentro do imensurável. »

É sempre uma questão, e uma busca.

O grande rio. O grande caminho.

A poética do mundo.

Se eu intitulo nosso livro, Magna Carta, empregando o latim antigo de propósito, é no senso duplo de um « grande mapa » e de uma « grande carta».

KW
O atelier atlântico
Verão 2016

INTRODUCTION

Que notre monde ait été excessivement normalisé est une hypothèse à laquelle on peut accorder quelque crédit. Des livres
d’ordre sociologique et psychologique qui décrivent et commentent cet état de choses se publient par centaines, sans que jamais en sorte la sensation d’un réel profond, d’un monde vivant, d’un espace inspirant.

Il fut un temps où les « avant-gardes » maintenaient ouvert un espace de recherche et de création en dehors du monde lourdement normalisé. Les avant-gardes sont toujours là, mais comme thèmes à colloques et marchandises sur le marché de l’art. Quant à la société normalisée, elle s’est libéralisée. Si autrefois, confite dans ses normes, elle pouvait rejeter tel ou tel art comme « immoral », « décadent », « laid », etc., aujourd’hui elle accueille tout, gobe tout. On est sous le règne du Tout et du N’importe quoi.

Dans un autre ordre d’idées, avant que sa barque ne se fracasse, un Maïakowski, face à un révolutionnarisme étatique rigide, pouvait encore réclamer une « révolution de l’esprit ». De nos jours, seuls les plus naïfs peuvent encore employer de tels slogans en croyant que cela va « faire une différence », « transformer la société », « changer le monde ». On
ne fait que tourner en rond, et tout se perd dans un brouhaha où ne peuvent se complaire que les esprits confusionnistes.

Il ne reste plus qu’à essayer de tout reprendre à la base.

C’est très précisément cela que je propose sous le concept de géopoétique.

C’est dans ce champ qu’a eu lieu ma rencontre avec Dominique Rousseau, qui remonte maintenant à une quinzaine d’années.

Dès mon premier contact avec ses travaux, je sentis que j’avais affaire à un artiste
éminemment géopoétique. Dans un livre récent sur la géopoétique (Panorama géopoétique. [N. do T. : WHITE, Kenneth; POULET, Régis. Panorama géopoétique : théorie d’une textonique de la Terre : entretiens avec Régis Poulet. Editions de la Revue des ressources, 2014], je parle de « textonique de la terre ». Or, le travail de Dominique Rousseau est profondément textonique. Il est plongé dans la matière du monde. Je pense à ce qu’il appelle, non pas modestement, mais basiquement, fondamentalement, ses « papiers ». Ces papiers, qu’il fabrique lui-même, sont imprégnés de matières diverses cueillies dans différentes régions du monde : forêt humide, savane, plage. Par la suite, grâce à une technique complexe, à des gestes à la fois fluides et contrôlés, précis et aléatoires, le papier de base devient paysage.

C’est tout l’itinéraire de l’humanité qui nous intéresse. Quel qu’ait été le progrès social et culturel de l’être humain, les qualités de la forêt primaire, de la savane et du désert sont encore inscrites dans nos cerveaux.

Et du paysage premier, on peut aller, au-delà de tous les blocages idéologiques, vers un paysage de l’esprit.

Avec Dominique nous avons entrepris une vaste collaboration qui, à l’heure actuelle, comporte une vingtaine de livres ainsi que de nombreuses planches séparées.

Dans cette étude, je n’accumule pas de commentaires directs sur les œuvres de
Dominique Rousseau, je ne fais pas de la « critique d’art ». Ce que j’essaie de faire, c’est de plonger dans des sources à la fois physiques et mentales, et d’ouvrir un espace dans lequel les œuvres surgissent dans leur évidence même, j’essaie d’ouvrir le contexte dans lequel les œuvres apparaissent, non seulement avec toute la sensation qu’elles véhiculent, mais avec tout leur sens.

Très conscient de l’énormité de l’entreprise, je voulais, comme titre de cet ouvrage, un mot extravagant, grotesque même, qui se placerait dans le paysage habituel comme un bloc erratique venu d’ailleurs. À la suite
d’une longue méditation amazonienne, le terme qui a surgi dans mon esprit était grotesque à souhait : Amazonarama.

Si j’ai décidé plus tard de choisir un titre plus raisonnable, il n’est peut-être pas inutile que j’explique un peu ce terme, car il constitue en lui-même, à sa manière, une introduction à ce livre, à l’étendue de son propos.

D’abord, l’espace, non, certes, unique, mais privilégié, de Dominique Rousseau, c’est l’Amazonie, un des foyers névralgiques de la Terre.

Pour ma part, j’ai toujours été attiré par la notion de panorama.

Si l’on ajoute à cela le terme que les Tupinamba donnaient au territoire qui allait devenir le Brésil, Pindorama, le titre se densifie encore.

Mais pour en revenir à la partie « Amazonie », la référence géographique n’est pas seule. Phonétiquement, dans « Amazonie », on trouve amaze (du vieil anglais amazian) qui donne amazement, étonnement, la motivation première selon Aristote (thaumazein) de la pensée et de l’art, entraînant une configuration de l’être, de l’univers et leur rapport.

À tout cela j’ajoute un élément supplémentaire. Dans son beau livre, La Face de la terre, Eduard Suess évoque le grand poème asiatique, le Ramayana, en relevant particulièrement un passage qui résume tout un questionnement, toute une problématique : « En contemplant l’Océan, dont les limites s’unissent sur l’horizon avec le ciel, Rama se demande s’il serait possible de frayer un chemin à travers cette immensité, de pénétrer dans le non mesurable. »

C’est toujours la question, et la quête.

Le grand fleuve. La grande voie.

La poétique d’un monde.

Si j’intitule notre livre, Magna Carta, en employant exprès le vieux latin, c’est dans le sens double d’une « grande carte » et d’une « grande charte ».

KW
L’atelier atlantique
Été 2016

ÍNDICE

Prefácio 7

Introdução 11 (KW)

1. As limitações da estética 19

2. O lugar da Arte 27

3. A procura de um novo mundo 37

4. Um manifesto brasileiro 51

5. Triologia do Rio Negro 65

6. O mundo geopoético 79


TABLE DES MATIÈRES

Prélude 7

Introduction 11 (KW)

1. Aux limites de l’esthétique 19

2. Les lieux de l’art 27

3. À la recherche d’un monde nouveau 37

4. Un manifeste brésilien 51

5. Trialogue sur le Rio Negro 65

6. Le monde géopoétique 79

Retour en haut